sexta-feira, 26 de setembro de 2008

8:05


Toda história tem dois lados e duas razões. Dê um mês pra cá isso foi muito discutido em várias situações. Porém a teoria é a mesma, só muda de endereço. O fato é: a verdade nunca fica escondida. Ela atravessa fronteiras e oceanos, mas apareçe. Quando ela é descoberta, traz decepções, surpresas, felicidade para alguns e para outros não, traz momentos de reflexão para que tudo possa ser assimilado. Um quebra-cabeças com peças faltando. Peças que se perderam com o tempo, e para reaver essas peças é preciso paciência, malícia, um pouco de compreensão, mas é preciso cuidado, pois existem quebra-cabeças onde a cada vinte peças encontramos uma peça exatamente do mesmo formato, gêmeas, temos que saber/sentir se estamos colocando a peça no lugar correto. Quando alguém nos diz a verdade, sempre falta alguma coisa, algum detalhe. Peças essenciais para que o quebra-cabeça se complete. Tempo/paciência. Depois do golpe que a vida nos deu, a gente pensa: como seria se soubéssemos da verdade desde o início? Não se pode saber sobre o que não se viveu. Apenas uma idéia geral. O que podemos fazer agora é aproveitarmos o que vem em frente, da forma que acharmos melhor, sem ressentimentos. Ressentimentos fazem com que a gente adquira um gosto amargo pra quem tenta nos provar.

sábado, 6 de setembro de 2008

Todo dia ela faz tudo sempre igual....

7:00 da manhã.

O celular toca a música alegrinha de sempre: é hora de acordar. Já sinto aquele friozinho do dia que começa, escuto uns passarinhos efusivos cantando lá fora. Abro os olhos, encaro os números na tela do telefone esperando que o 7 se transforme em 5 e que eu ganhe mais duas horinhas de hibernação. É, não acontece.

Então eu pulo da cama sem me espreguiçar, por que eu tenho essa teoria de que se espreguiçar dá mais sono. Já ouvi dizer que fazer isso era importante, que era um segredo da natureza... que se você reparar bem, vê que nenhum animal acorda e levanta sem se espreguiçar antes. Blé, eu desafio as leis naturais, sou uma anarquista. Além do mais, se é pra imitar minha cachorra, vou começar correndo atrás de uma bolinha de meia ou perseguindo gatos, que me parece bem mais divertido.

Tá, daí eu começo a fuçar as roupas que - estratégicamente, claro - eu atirei ao chão, no dia anterior. Deve ter uma blusa ali. E um blusão também. E a minha calça jeans que já está com o cinto enfiado, pra me poupar trabalho e tal. O fato de estar tudo tão amassado e de parecer que eu passei a noite dentro da boca de uma vaca é só um detalhe sem importância, por que logo passaremos ao ápice da coisa: a hora de arrumar o cabelo.

Eu cortei ele recentemente. Está repicado. Um ótimo jeito de dizer que agora ele parece desarrumado, não importa o quanto eu arrume. Ah, e tem a franja que é um caso à parte: um lado não fica igual ao outro. E na umidade ela - que não trai o movimento, véi - volta às origens e começa a enrolar. Daí se formam dois loopings de cada lado da minha testa. Um Hopi Hari capilar. Analisando que a pior hora pra um cabelo é logo que se acorda, não preciso dizer que minha situação é crítica. Passo um pente e a despeito de parecer um cabrito montanhês, com belos chifrinhos emoldurando meu rosto, rumo ao banheiro. Missão: fazer xixi e escovar os dentes.

Até que essa parte transcorre sem maiores problemas. Se você não considerar a água fria da torneira e o assento gelado da privada um problema.

Uma olhada no relógio me diz que eu gastei 15 minutos no processo. Legal, isso quer dizer que eu ainda tenho o dobro de tempo pra cumprir a tarefa mais desafiadora do mundo, desde achar o padre voador: encontrar minhas meias.

Honestamente, eu não sei o que acontece aqui nesse quarto. Quer dizer, eu até sei: ele é uma zona, por que eu sou tão organizada quanto um menino de 13 anos. Mas deve haver algo a mais, como algum fator sobrenatural, um gnomo sem princípios, um fenômeno meteorológico do tipo "mini tornado"... sei lá. Me recuso a acreditar que é culpa minha o fato das minhas meias nunca estarem no mesmo lugar em que eu podia jurar tê- las jogado antes.

Embaixo da cama não tá. Atrás da escrivaninha não tá. Dentro do tênis não tá. Atrás da porta tem um pé do par branco. Do lado do armário tem um pé do par azul. O relógio ri com escárnio: 10 minutos pra chegar na estação e pegar o metrô, se não quiser me atrasar. Eu chamo por São Longuinho, prometo 10 POLICHINELOS se conseguir encontrar o par completo. Nada.... o suor começa a escorrer pelas minhas têmporas e, porra, isso vai deixar minha franja ainda pior. Respiro fundo e faço uma jogada arriscada: e se eu não usar meias? Hum, seria um movimento ousado já que meu all star tem um um pequeno problema em manter a sola presa ao resto do tênis. Isso sem falar no perigo do meu pé produzir algum tipo de gás letal após andar 40 minutos, sem meia, confinado num espaço minúsculo. É, não tem jeito. Preciso fazer o trabalho sujo: coloco um pé de cada par, rezo pra nenhuma eventualidade me arrancar o tênis em público e saio.

O dia começou e agora seja o que Kurt Cobain quiser.


... continua.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Inside Job...

Mais um dia começa, ele se levanta e procura pelos seus bonequinhos de papel, suas únicas companhias. Encontra um em cada canto do quarto, recolhe-os do chão, de cima da cômoda, do baú de brinquedos, de debaixo da cama e os coloca em posição de festa para brincar. Ele tinha outros bonequinhos de papel que fizera antes destes, uns se perderam, outros ele rasgou acidentalmente, alguns queimou (não acidentalmente) e uns três ou quatro daqueles velhos bonequinhos (marcados com um sinal em giz de cera) permanecem ali. Uma vez ou outra aparecem uns que se perderam e depois voltam a sumir em meio à bagunça do quarto desarrumado.
À medida que brinca com seus novos bonequinhos de papel, que fez para não se sentir tão sozinho, eles se desgastam e vão perdendo a graça, sua forma se torna monótona até que fiquem disformes. Então ele começa a se cansar de brincar com muitos desses mesmos bonequinhos de papel, outros começam a irritá-lo por terem uma cor chata, uns são feitos de cartolina e são duros demais oq o deixa chateado, outros dos quais ele mais gostava já se perderam há algum tempo; assim vão desaparecendo um a um todos os seus bonequinhos de papel, até que restem apenas mais uns três ou quatro marcados com giz de cera...
Ele procura novamente por mais papel, papelão, cartolina ou qualquer material frágil e moldável e começa a fazer novos bonequinhos de papel...