quarta-feira, 17 de outubro de 2007

a carne é vermelha como o inferno

Correu com a maior rapidez que suas finas de pernas de apenas sete anos conseguiam proporcionar. O lombo ainda ardia da surra que acabara de tomar. As lembranças aceleravam o ritmo da corrida e tomava mais intensa a fricção do pé do menino com o asfalto. Bolhas eclodiam e a pele ia ficando para tráz.

Voltar, nunca. O bafo de cachaça do padrasto causava-lhe náuseas apenas com o pensamento. Como os pés ardiam... O negro de sua pele tornara-se vermelho, era a sua carne.

Dormiu em uma sarjeta qualquer e acordou já adulto. Suas feições já não eram mais as mesmas e a única coisa que latejava agora, era o ódio.

-Toma isso, disse o amigo, vai mostrar que a cor do inferno é a mesma da sua carne.

A mão se encaixa perfeitamente no gatilho. Sobe o morro que descera tão avidamente no dia anterior, sobe lentamente, remoendo, aproveitando. Um sorriso. O rosto tão temido do padrasto.

Mira e fecha os olhos. Um estouro, a risada do moleque toma toda a favela.

2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

cara...

show!! :D

18 de outubro de 2007 às 00:43  
Blogger Doll disse...

Lucia, simplismente Rata!

18 de outubro de 2007 às 02:46  

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