domingo, 2 de março de 2008

Into the Wild

Confesso que fui assistir o filme com um misto de preconceito e empolgação. Preconceito pois não gostei muito do CD feito para o filme composto pelo cantor Eddie Vedder, e empolgação pela minha admiração pelo trabalho do Sean Penn e pela história da vida de Christopher McCandless, que perpassa por um assunto muito latente, urgente e presente na minha vida.

Por detrás do clichê do jovem que quer largar tudo e ir viajar sem destino, está uma história muito delicada, de um ser humano que tinha uma ética e uma moral muito diferentes do que a maioria das pessoas tem. E antes que tentem jogar McCandless no ridículo de dizer que ele era apenas um egoísta com ideais sem sentido, eu repito: ele era apenas um cara diferente, com valores diferentes. E eu não acho justo que se julgue uma pessoa com a ótica de outra pessoa, pois nós nunca realmente sabemos o passado e as coisas que se passam com o nosso próximo para sairmos apontando o certo e o errado. E mais: é um erro olhar para o outro com os nossos dogmas pessoais... "Cada homem, cada mulher, é um universo".

Enfim, McCandless opta por largar toda a hipocrisia e todo o vazio da sociedade. Na verdade, eu penso que o grande problema dele, não era com a sociedade em sim, mas sim com seus pais. Ao descobrir que seu pai e sua mãe não eram exatamente um modelo de pureza e que eles tinham defeitos terríveis, o jovem se vê perdido, sem chão. Parece história de adolescente mimado, mas eu acredito que não seja. Descobrir muito cedo que os pais não são aquelas pessoas geniais e incríveis que você pensava que eles eram quando era criança, é um fato terrível... Quando se é jovem, a maior certeza da nossa vida, é que nossos pais são seres imaculados, incapazes de terem defeitos... são semi-deuses. E descobrir de um jeito não muito bacana que isso tudo é uma grande mentira, é um golpe muito forte para um adolescente (lembrando que só ser adolescente já um problemão...).

Logo, ele projeta esse microcosmo de sociedade, que é a família, na sociedade propriamente dita. Acredito que McCandless se sentia alheio a toda cobrança de ser um cidadão comum, ele não via sentido em fazer parte daquilo tudo, já que seus valores eram muito contraditórios aos que ele enxergava na vida cotidiana. Ele sentia raiva por toda a podridão escondida debaixo dos panos. Era o mesmo sentimento que ele tinha em relação aos seus pais.

Ao sair na sua jornada, ele procura o seu ideal de vida na natureza, dispondo de seus recursos e tocando a vida, em sua maior parte, na solidão.
Em um certo momento do filme, ele diz para um velhinho que conheceu na estrada: "Se relacionar com as pessoas não é necessário."
Outro exemplo, a ilustrar que a moral/ética de McCandless é diferente da maioria das pessoas, é na parte que ele rejeita a mocinha que quer dormir com ele. E eu li em algum lugar que dizia que não há registros de nenhum relacionamento amoroso em sua vida.Ou seja, o amor carnal não era um valor precioso para o jovem...

E o mais bonito de tudo são as suas elocubrações no leito de morte... É o amolecimento de sua raiva, é o entendimento tardio... "hapiness only real when shared", é o que ele escreve uns dias antes de morrer. Antes, ele vivia lendo nos livros definições de felicidade, poemas sobre a vida na natureza e como atingir o estado pleno de bem estar. É lindo o sofrimento do pai, andando pela rua e sentando no asfalto, puxando as calças como ele fazia quando jovem... Os pais não são perfeitos... mas nós também não. É muito fácil sentir raiva pelas imperfeições. Difícil é compreender o caminho que a pessoa tomou, os sofrimentos que ela passou e passa... E McCandless só se dá conta disso, quando está para morrer, quando não há mais volta.

O que me encantou de verdade mesmo no filme e na história do mocinho, é o fato de que
do estado emocional dele, se refletiu inteiramente na vida exterior. Não há uma real intenção de se criar uma metáfora, pois os fatos realmente aconteceram... Se ele tivesse andado um pouco mais, ele conseguiria atravessar o rio... mas foi escolher justamente o lugar onde a correnteza era mais forte... Ele foi escolher se isolar, sem saber que não precisava sentir toda a raiva sozinho, havia pessoas no mundo por ele, apesar de todo o sofrimento. A vida dele toma o exato rumo de seus sentimentos... é uma ironia muito delicada, muito bonita até.

Eu sei que não sou a Sra. Idade Avançada para ficar fazendo reflexões acerca da juventude, mas eu vou fazer mesmo assim. A gente sente muita urgência nos sentimento quando somos mais novos, a gente sua sangue, quer gritar alto, quer sonhar, quer carregar o mundo inteiro nas costas, quer ser livre. Nos agarramos em verdades que cortam a nossa carne e queremos provar para o mundo que estamos certos, que não há um meio termo. A gente sua sangue. E quer suar sozinho. Duros como o aço. Mas até o aço pode ser quebrado...

Christopher McCandless, meu novo heroí adolescente.

Indico. Mudou a minha maneira de enxergar a minha realidade, amoleceu a minha teimosia.


E, publicamente, eu me retrato a respeito do trabalho do Eddie Vedder. Ele é sensacional, captou direitinho, de um modo muito bonito, a atmosfera do filme. Compreendi o porquê das músicas simplórias e curtas... Fantástico, de uma sensibilidade fora do comum. Mordi minha língua.


(escrito ininterruptamente ao som da belíssima Guaranteed)

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

quando sair aqui em Cwb eu vejo e comento...agora...me abstenho, rí.

Mas li tudo oque tu escreveu Lussian//

3 de março de 2008 às 15:39  
Blogger verme disse...

auhuhauhauha que bonitinha, emi


assista, eu quero que todo mundo assista, é a história mais bonita e triste que eu tomei conhecimento!

3 de março de 2008 às 20:19  
Blogger Flavi disse...

muito foda o filme,chorei nele inteiro

4 de abril de 2008 às 00:10  

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